Exposição Identidade

Apesar dos trabalhos de Vera Bettencourt nos surpreenderem com uma nova e curiosa plasticidade, mais arrojada, nesta exposição a artista dá continuidade ao seu estilo figurativo-narrativo, impregnado de uma aura espirituosa. No entanto, é um estilo apresentado com maior profundidade e, inclusivamente, com certa melancolia.


Estes trabalhos, que conjugam temática e esteticamente crenças, lendas e poesia açorianas, nascem numa consciencialização plena da arte contemporânea. Mas, assumem-se como fruto da inata e singular riqueza, da percepção da realidade, por parte dos nativos açorianos. Há quem diga que lhes corre agua salgada nas veias!...

Na actual série, Vera Bettencourt revela sem dúvida, e mais consciente do que inconscientemente, a sua própria Identidade. Mais precisamente, a desmitificação, por parte de uma Identidade presente, de uma mais antiga, já apreendida.

Na pesquisa para uma teorização, o mais aproximada possível, do trabalho de Vera Bettencourt, foi encontrado um dialogo que, de certo modo, é exemplificativo da enigmática e fascinante linguagem que esta artista materializa no seu trabalho:

"(...), por favor, leve-me para um sítio mais solar, leve-me de volta às suas ilhas, por favor, tenhamos um outro sonho."

"Mas agora chegámos ao fim do meu sonho, é tempo de você voltar para os seus próprios sonhos"

"Até aos próximos Açores, Dacosta, gritei. Ele voltou-se e acenou-me com a mão. E nesse momento dei comigo num sonho só meu*"

Lourdes Athayde

* TABUCCHI, ANTÓNIO; "Sonhando com Dacosta"; António Dacosta; Livros Quetzal, S.A e Galeria 111; Lisboa; 1995.




Visão (Soneto de Antero de Quental)
Técnica mista sobre tela
100x60cm
2009
Colecção da Casa dos Açores de Lisboa 




Velut Umbra (Soneto de Antero de Quental)
Técnica mista sobre tela
100x130cm
2009 




Salmo (Soneto de Antero de Quental)
Técnica mista sobre tela
100x120cm
2010 




Mãe Acto Único Absoluto (Poema de Natália Correia)
Técnica mista sobre tela
100x130cm
2010
Colecção de Arquipélago - Centro de Arte Contemporânea 

Comentários

Anônimo disse…
Adorei este teu trabalho sobre poemas açorianos. Poemas que já estudei/interpretei. É interessante ver como os pintaste e mais interessante ainda é confrontar as interpretações literárias com as interpretações pictóricas que lhes atribuiste. Os meus parabéns. Fábio Mendes